Uma pesquisa da consultoria Mercer Marsh revelou que o Brasil terá a terceira maior inflação médica no mundo em 2018. A empresa calcula uma variação de 15,4% nos custos do setor, quase 12 pontos percentuais a mais que a inflação geral projetada. Nos próximos três anos os novos tratamentos serão o fator que mais aumentará os custos na América Latina. A maior incidência de doenças não transmissíveis, como câncer, e o envelhecimento da população também deverão acelerar a inflação médica.
O Instituto de Estudos de Saúde Complementar afirma que, considerando apenas o envelhecimento da população, seriam gastos R$ 190,7 bilhões com despesas assistenciais para os beneficiários de planos de saúde médico-hospitalares em 2030. Quando consideradas outras variáveis, esse valor é ainda maior: em 2030 seriam gastos R$ 383,5 bilhões, considerando a variação dos custos médico-hospitalares e do envelhecimento.
Dentro desse cenário, o controle de exames dispensáveis é a peça chave para reduzir gastos desnecessários e tornar o setor mais sustentável. Alguns dados revelam que em 24 horas de internação 87,5% dos pacientes fazem pelo menos um exame desnecessário. Em mais de 70% dos casos a conduta não é alterada pelo resultado dos exames. Outra questão relevante é que as requisições desenfreadas por exames não afetam somente o orçamento da saúde, elas podem refletir-se na recuperação do paciente. Quanto mais amostras são colhidas, maior é o risco de infecção. Também existe o risco da anemia por causa da coleta excessiva de sangue. E as chances de isso acontecer não são remotas: 20% dos internados sofrem com esse tipo de anemia. Dessa forma, reduzir os testes laboratoriais dispensáveis é uma maneira eficaz de cortar custos e melhorar a experiência dos pacientes.
No Kaplan Medical Center, em Israel, um projeto para diminuir os exames de sangue em um dos quatro departamentos da instituição provocou uma economia de US$ 1,9 milhão. Além disso, pesquisas comprovam que mais testes não são sinônimos de segurança e reduzir solicitações de exames não piora os desfechos. No Brasil é necessário mudar o padrão de solicitação de exames através de abordagens multifatoriais. O primeiro passo é educar os profissionais de saúde quantificando, por exemplo, os exames pedidos por cada médico e mostrar-lhes os resultados, para que assim eles comecem a perceber o próprio hábito e entendam seu impacto.
É justamente na atitude de reeducar, engajar e capacitar os colaboradores que acontece o processo de evolução da saúde, que se dá além da aquisição de hardwares e softwares. Porém, no Brasil, ainda encontramos certa resistência em relação a essa nova realidade mundial. Se investir em tecnologia gerasse melhorias de gestão, os hospitais brasileiros estariam entre os mais bem geridos e mais rentáveis do mundo. É inútil disponibilizar recursos avançados para profissionais não capacitados a utilizá-los. E o gestor é fundamental nessa transição. O papel dele é comunicar e reforçar a todo o momento o caminho, o propósito, a missão e os valores da instituição. Dessa forma, será possível transformar hospitais em entidades de saúde, com foco na promoção e prevenção.